OPINIÃO POLITICA | Sérgio Santos (PS) – Balanço da visita à Tratolixo

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INTRODUÇÃO

Com o propósito de conhecer melhor o funcionamento do sistema de recolha e tratamento de resíduos sólidos domésticos, no âmbito da AMTRES (Associação de Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra), e tentar perceber qual a origem e possíveis soluções para os incómodos odores emanados pelo Ecoparque da Abrunheira, uma delegação do PS de Mafra fez, no dia 10 de Abril de 2019, uma visita às suas instalações.

A delegação foi recebida de forma muito cortês e assistiu a uma breve palestra de apresentação em que a TRATOLIXO respondeu às perguntas que lhe foram colocadas. Seguiu-se uma visita às instalações da “fábrica”, tendo ficado no ar a impressão de que todos ali estavam de boa-fé e com vontade de trabalhar em prol dos interesses da comunidade.

Não temos a pretensão de ditar veredictos acerca de matéria tão complexa nem de encontrar “soluções mágicas” para os problemas existentes. Pretende-se, isso sim, tomar conhecimento da realidade, com vista a poder dar-se uma resposta na perspetiva do cidadão/leigo que beneficia deste importante serviço e padece dos “danos colaterais” inerentes a esta atividade.

O QUE É A CDA (CENTRAL DE DIGESTÃO ANAERÓBIA) DA ABRUNHEIRA?

É o coração do sistema de tratamento do lixo recolhido pelos municípios da AMTRES, o local onde o lixo recolhido e pré tratado em Trajouce (exceto o de Mafra, que é triado no local) é tratado com vista à sua transformação em composto orgânico (adubo), gerando-se, nesse processamento, biogás que, por sua vez, é usado na produção de energia elétrica que é vendida à EDP.
Neste processo geram-se ainda subprodutos, nomeadamente metais e outros resíduos recicláveis, separados durante o processo, águas lixiviadas e rejeitados. Todos estes subprodutos ou são tratados no local, enviados para terceiros para reciclagem ou valorização energética por queima (na Valorsul) ou confinadas no aterro local (CCT-Célula de Confinamento Técnico).

Trata-se da maior instalação do género em Portugal, usa tecnologia de ponta, foi financiada, em boa parte, por fundo europeus e parece ser uma das melhores soluções de futuro para o tratamento de lixo doméstico.

CONVICÇÕES RESULTANTES DESTA VISITA

LOCALIZAÇÃO DO ECOPARQUE

A Abrunheira é um local relativamente isolado e remoto mas não o suficiente para que o impacto sobre o bem-estar das populações não seja afetado de forma negativa, nomeadamente no que toca ao transtorno provocado pelos veículos pesados, que andam numa roda-viva entre Trajouce e a Abrunheira, embaraçando o trânsito automóvel na acanhada estrada Sintra-Cheleiros-Carapinheira e, sobretudo, padecendo dos persistentes maus odores emanados pelo CDA/CCT/ETAL. A ETAL é uma estação de tratamento de águas lixiviantes, isto é, de águas sujas escorridas durante o processo.

Além disso, fica a impressão de que o Ecoparque é fisicamente algo acanhado, em termos de espaço, encaixado num vale com declives demasiado acentuados e com pouco espaço para a sua possível futura expansão.

Este problema é virtualmente impossível de resolver, uma vez que é da própria natureza demográfica e orográfica do Concelho que não se vislumbrem locais alternativos com as condições ideais. É o que temos e temos de viver com isto.

PORQUE É QUE A AMTRES “OPTOU” POR IMPLEMENTAR UMA CAD E NÃO UMA UNIDADE DE VALORIZAÇÃO ENERGÉTICA, COMO FAZEM OS CONCELHOS VIZINHOS NA VALORSUL?

Foi essencialmente por exigência da CE e do Governo, isto para se tentar atingir metas ambientais em Portugal, calhando-nos a nós, “na rifa”, esta solução, como desabafou o Dr. Sardinha, da Administração.

Esta solução, se comparada com a “queima”, tem custos financeiros bem mais acrescidos, custos estes que são suportados pelos “clientes” (os municípios e, no fim da linha, os munícipes de Mafra, Sintra Oeiras e Cascais).

Todavia, parece ser consensual que esta solução é ambientalmente melhor do que a da Valorsul, apesar de ser bem mais cara.

IMPRESSÃO GERAL QUE FICOU DAS INSTALAÇÕES

Pareceram-nos bem arrumadas, funcionais, sem desleixos ou incúrias, parecendo haver, da parte da Tratolixo, uma preocupação de fazer bem sem deixar de olhar para a sustentabilidade financeira do projeto.

Parece-nos que a Tratolixo anda a adiar há demasiado tempo a decisão de dotar o Ecoparque de instalações condignas para os trabalhadores, uma vez que o refeitório e vestiários estão em contentores metálicos, quando deveriam estar num edifício definitivo, criado de raiz para o efeito.

PORQUE É QUE O ECOPARQUE CHEIRA TÃO MAL?

Porque é uma unidade de tratamento de milhares de toneladas de lixo doméstico e este, por natureza, não é conhecido por ter bons odores.

O máximo que se pode exigir a uma unidade industrial destas é que não emita odores em quantidade suficiente para incomodar quem perto dela circula ou vive.

Curiosamente, durante a visita deparámo-nos com odores desagradáveis mas nunca insuportáveis.
Então, se dentro do Ecoparque não se faz sentir um ambiente especialmente mal cheiroso, porque é que os habitantes da Alcainça se queixam de constantemente suportar maus cheiros?

Queixam-se e com razão; Qualquer pessoa que passe na A21 ou na Alcainça pode atestar que, de facto, há um cheiro repugnante no ar.

A CDA da Abrunheira está dotada de sistemas de tratamento do ar, com vista à eliminação/minimização de maus odores.

Se estão, ou não, 100% operacionais, se são adequados e suficientes, não sabemos. Mas há algo que sabemos: Não são 100% eficientes nem perto disso, uma vez que é uma verdade absoluta que a CDA (ou será a CCT?) emite odores para o exterior.

Acreditamos que a Tratolixo esteja preocupada com este impacto negativo sobre o ambiente e que esteja a tentar solucionar o problema.

Compreendemos também o gigantismo do desafio que é tentar fazer com que o tratamento de milhares de toneladas de matéria orgânica em decomposição não deixe escapar odores desagradáveis.
Perguntas a que urge responder:

Será que a origem dos maus cheiros é difusa ou está localizada em determinada instalação?
Uma vez que os materiais lançados nas CCT (aterros) ainda contêm muita matéria orgânica não totalmente estabilizada, não será aí a principal fonte de mau cheiros, uma vez que não parece estar a ser selada com terra na devida altura?

Não estarão os filtros sobrecarregados ou colmatados por humidade, partículas ou outros produtos?
Como se pode esperar que um sistema de filtragem seja eficaz se muitos dos pavilhões tinham as suas enormes portas escancaradas? Não estarão a introduzir demasiado ar no processamento, sobrecarregando o sistema de filtragem e a deixar escapar maus cheiros através das portas abertas? Não é suposto haver pressão atmosférica ligeiramente negativa dentro das instalações? Como é que se pode obter essa “depressão” com as portas abertas?

Sabe-se que o tratamento anaeróbio dos resíduos é inodoro, uma vez que só funciona se for absolutamente estanque, logo, não é daí que vem o mau cheiro.

Todavia, as lamas saídas dos digestores ainda não estão estabilizadas e precisam de um posterior tratamento aeróbio para esse efeito. Será falta de arejamento das pilhas de composto?

Será desequilíbrio na relação N/C (Azoto/Carbono)?

Já equacionaram a adição ao composto de materiais finamente triturados que lhe melhorassem a estrutura, o arejamento e promovessem a fixação dos compostos azotados (Amónia…) e sulfurosos (Sulfureto de Hidrogénio/gás sulfídrico), nomeadamente, material celuloso proveniente de jardins e desmatações, argilas em pó, pó de rochas basálticas?

Será viável a substituição do atual método de compostagem aeróbia em pilhas por outro em reatores fechados e isotérmicos, em que as temperaturas rondam naturalmente os 60 graus C e em que é muito mais fácil desodorizar os efluentes gasosos?

O ser humano é extremamente sensível a odores sulfurosos, como o do Sulfureto de Hidrogénio, detectando-o em proporções mínimas (da ordem das poucas partes por milhão), muito antes de este composto se tornar um problema de saúde. Todavia, o bem-estar das pessoas também é um dos componentes da sua saúde e de quem tem a vida infernizada por constantes vagas de maus odores não se pode dizer que esteja a gozar em plenitude da saúde psicológica a que tem direito.

CONCLUSÃO
O CDA da Abrunheira é um instrumento importante para se dar um destino adequado ao lixo que produzimos. É este o caríssimo sistema que implementámos e não temos outro, logo, temos de o fazer funcionar bem em todas as vertentes. E isso ainda não foi conseguido, apesar dos esforços que a Tratolixo tem feito.

O problema real e persistente dos maus odores emitidos ainda nem sequer parece ter a sua origem identificada inequivocamente. Achamos que saber exactamente de onde vem o cheiro é o primeiro passo a dar.

Não nos podemos resignar perante este problema, encolher os ombros e dizer “é a vida…”.
Há-de haver uma solução para se evitar que parte dos odores escapem para a atmosfera, incomodando fortemente os cidadãos que têm o azar de viver perto da Abrunheira.
Se a Tratolixo não resolver esta questão, corre o risco de perder prestígio e de começar a ser alvo de campanhas de intoxicação da opinião pública contra a empresa, de aproveitamentos políticos pouco honestos e mesmo, por desespero, começar a ser questionada e contestada a sua existência e presença onde está. E não nos parece que seja isso o que verdadeiramente interessa aos munícipes de Mafra.

 

Sérgio Santos
Presidente Comissão Política de Mafra

 

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As opiniões expressas nesse e em todos os artigos de opinião são da responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representado a orientação ou as posições do Jornal de Mafra

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